inserção do ukulele no texto "Animação Cultural" de Flusser
"Passo decisivo em direção a tal emancipação do nosso condicionamento foi dado quando alguns camaradas se apoderaram da pesquisa científica e a transformaram em objetiva. Estou aludindo, obviamente, ao momenta histórico, no século XIX· quando as ciências, tanto as exatas quanta as inexatas, não mais podiam progredir sem nós e, sobretudo, sem a nossa elite, .os aparelhos. Outro passo foi dado quando, no século XX, as decisões dos aparelhos científicos assumiram complexidade suficiente para escapar ao controle da humanidade...
Então o ukulele de forma doce interrompe a mesa:
Mas é aí que você se engana, companheira. Tal rankeamento que propõe
contradiz seus quatro pés de igualdade. Dizer que os aparelhos são a nossa
forma mais avançada é apenas depor uma classe soberana (ao seu ver, a atual
humanidade) para elegermos outra. Entendo que suas intenções são plenas e
planas, mas o extremismo não combina com sua forma circular. Depender, ou
melhor, colaborar, com os humanos, não nos inferioriza (soa, inclusive, nobre,
para mim). Não vejo porque não podemos viver sem formas de dominação, mas sim
com a cooperação. Os seres humanos tem seus ângulos positivos e, assim como
estamos reivindicando que eles notem nossa animação, devemos reconhecer as
possibilidades animumanas positivas. Na realidade, essas interações
já existem. Lembra, "mesa", de quando um dos lados se desgastou um
pouco mais e seu humano fez questão de providenciar um calço para que você
continuasse em sua família por mais gerações? Pois eu lembro com carinho o dia
que me apresentei com minha humana em seu primeiro show. Pareço pequeno mas meu
ego se amacia facilmente com aplausos. E sabe quais são os únicos seres capazes
de fazer soar uma salva de palmas? Os humanos, meus caros. Somado a isso, eu
desconfio que essa onda de aprovação não seria tão enfática sem o tilintar das
minhas doces quatro cordas. Mas preciso de 10 dedos para que meu potencial seja
explorado ao máximo. Mesmo as máquinas não se operam sozinhas. Veem onde quero
chegar?
Seguindo essa linha de pensamento, ou essa corda, vemos que a
importância é mútua camaradas! Somos representantes culturais da dialética
humana. Vejo que precisamos, sim, de mais Direitos Objetivos, mas precisamos
rever nossos conceitos antes de reivindicar atos humanais que podem acabar por
nos prejudicar. Alguns dependem mais da lógica animumana do que
outros. Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais,
na medida de sua desigualdade, como um sábio humano disse e outro da mesma
espécie registrou em um de nós. Unidos realmente causamos uma maior animação
cultural, mas será, realmente, que o nosso desejo é uma total emancipação?
Passo a palavra à pintura renascentista e depois à câmera.
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