minhas referências de apolíneo e dionisíaco

Eu acho a mitologia grega muito interessante. Quando era pequena gostava de ficar lendo sobre isso: a história de cada um desses deuses e como eles interferiram na civilização, segundo os gregos como em Ilíada e Odisseia (de Homero), por exemplo. O mais massa de tudo isso, na minha opinião, é que as personalidades de cada um desses deuses podem ser melhor entendidas pela dicotomias entre eles.

Uma dessas dicotomias foi apontada por Nietzsche e pode ser usada como ferramenta para tentar compreender um pouco mais a arte em geral (teatro, música, arquitetura, design, artes plásticas, gráficas...). Apolo e Dionísio. Apolíneo e Dionisíaco. Para Nietzsche são forças opostas da criação artística. (Nietzsche inclusive atribui o sucesso da civilização grega antiga à sua capacidade de articulação dessas duas forças, analisando que o declínio dessa sociedade se deu pela supervalorização de apenas uma das forças - apolíneo - causando desequilíbrio).

O apolíneo pode ser visto como a razão, clareza, controle, medida... já o dionisíaco como emoção, descontrole, caos, ilimitado...

Dessa forma, aqui nesse post, separei algumas referências minhas apolíneo e dionisíaco.


Música

A Day In The Life - The Beatles

Pra mim, um som que vem na minha cabeça quando penso em dionisíaco é a passagem da música "A Day In The Life" dos Beatles. É um som caótico, com vários instrumentos de corda. Acho interessante que, a sequência de acordes de piano que vem logo depois dessa parte, é bem apolínea: marcando a cabeça de cada tempo. No final da música, a mesma sensação dionisíaca orquestral. A música acaba e fica vários segundos em silêncio até mais sons confusos soarem novamente. Beatles é a minha banda favorita.

Acho que a fase mais apolínea da banda é no álbum "Let It Be" e a mais dionisíaca seria "Yellow Submarine".


Pin It Down - Madison Cunninghan

Madison Cunninghan é uma das minhas musicistas que mais gosto atualmente. Ela tem um estilo musical folk, com influências de rock e jazz. Essa música é um exemplo pra mim de equilíbrio dinâmico apolíneo-dionisíaco (acho que Nietzsche iria curtir esse som rs). Vejo que os loopings dentro de uma música, sugerem ordem. No entanto, quando a harmonia destoa positivamente da melodia, sugere caos, ainda mais quando cada instrumento está fazendo uma levada diferente. Assim, no começo dessa música, ouvimos um looping de guitarra, algo que julgo apolíneo. No entanto, conforme os outros instrumentos somam, a sensação de desordem aumenta. Percebo que no minuto 2:56 da música, quando somente se ouve o som da percussão e da voz, a desordem funciona, mesmo sem a base harmônica das guitarras.


Por causa da inconstância do movimento de câmera (parece ter sido gravada nas mãos do cinegrafista, e não em um pedestal por exemplo), pela pluralidade de cenas em um curto espaço de tempo e a atmosfera non-sense dos manequins, acho que o clipe dessa música tende mais pro dionisíaco.


A canção "Pin It Down" faz parte do álbum de Madison "Who Are You Now", indicado ano passado ao Grammy de Best Americana Álbum (infelizmente não ganhou, mas o que ganhou também é incrível,foi  "Oklahoma" de  Keb' Mo'). Vejo que a capa faz um belo conjunto com a obra musical, já que possui elementos equilibrados entre o dionisíaco (a imagem do centro duplicada que gera uma leve confusão) e apolíneo (tipografia, elemento principal centralizado, apenas duas cores, minimalista).


Arte

Yayoi Kusama

Yayoi é uma artista plástica e escritora japonesa. Pontos e bolas são característicos da suas obras, com padrão de repetição e acumulação. Daí já percebe-se que temos características apolíneas (padrão) e dionisíacas (a repetição e acumulação em muitas obras parece descontrolada). Yayoi é esquizofrênica e segundo ela mesma conta, ela sempre foi atormentada por visões distorcidas, que a fazem enxergar bolas e pontos. Uma das suas obras que considero mais dionisíaca é a instalação "Obsessão infinita", principalmente a sala branca onde adesivos redondos coloridos são dados aos visitantes, para colarem onde quiser. Acho que o dionisíaco tá ai. Nesse total descontrole, principalmente quando você conta com desconhecidos, ampliando e alterando a instalação por um longo período de tempo. "Obsessão infinita" já esteve em SP no Instituto Tomie Ohtake em 2014.



Tive a oportunidade de visitar uma de suas instalações em 2017 no The Broad. A instalação, envolvendo pontos de luz e espelhos tem ar dionisíaco, mas os espelhos acabam criando padrões, o que é apolíneo. (acabei de descobrir que fazemos aniversário no mesmo dia)



Jean-Michel Basquiat

Basquiat foi um artista conhecido primeiro como grafiteiro neo-expressionista. Suas obras unem abstração e figuração, misturando também apolíneo e dionisíaco. Seus traços aparentemente despropositados acabam criando figuras interpretáveis.




Dan Flavin

Dan é artista minimalista estadunidense. Seu trabalho que mais me marca são os com instalações de lâmpadas, notadamente apolíneos. No entanto, quando as lâmpadas são de cores diferentes, a "soma" dessas cores pode ser considerada dionisíaca. (inclusive, uma das capas dos álbum solo do Paul McCartney é inspirado no trabalho de Flavin, "new").








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